quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Série de Estudos!


“E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” II Co. 5.15

Ninguém pode negar que este nosso tempo é de muitas inquietações. Vivemos um verdadeiro tempo de questionamentos e convulsões sociais. A cada dia os padrões são postos à prova e espera-se que estes caiam para dar lugar a um novo, baseado nas novas tendências sociais de convivência e liberdade.

A cada dia um termo, uma lei, uma regra, caem para dar lugar ao novo. A cada instante, na mesma velocidade das conexões de telecomunicação, o novo se apresenta e pede espaço. E o espaço que ele pede, exige a retirada de algo que já estava ali. Então, como alguém que renova o guardarroupas, tira-se tudo que estava guardado e acomodado (mesmo ainda podendo ter utilidade) e substitui-se por aquilo que é a nova tendência.

Nas instituições ou empresas isto é chamado de atualização. A atualização visa colocar a entidade/empresa em condições de concorrência. Visa dar a esta, uma roupagem que a identifique com seu tempo. Seja redesenhando sua logo, seja fazendo fusões com empresas antes concorrentes, seja inaugurando um serviço pioneiro.

E o que isso tudo me diz com respeito à vida cristã e seus princípios?

Diante da velocidade das atualizações e renovações, o cristianismo tem sido desafiado a também entrar na onda, buscar uma nova roupagem, dar ares mais frescos ao velho discurso doutrinário ou, como determinam as novas tendências, fazer um upgrade. O cristianismo é desafiado todos os dias a dar respostas às questões da vida, mas os que perguntam esperam que esta seja politicamente correta, sociável, enfim, sem absolutismos.

Em momentos assim, faz-se necessário voltar e rever o antigo caminho percorrido. 

Sempre gostei de desenhar, mas nunca tive um talento nato como meus amigos. Há algum tempo comecei a estudar CorelDraw e passei a fazer no computador aquilo que meu talento manual não alcançava. Depois me empolguei com o Photoshop. Ali eu podia fazer coisas como aquelas que via nas revistas e televisão. Mas, a coisa mais importante que aprendi estudando estas duas ferramentas é que, não importa o estágio do trabalho em que você se encontre, tenha a coragem de admitir que não está bom e volte ao começo. Isto implica, às vezes, renunciar dias de trabalho. Já joguei fora cartazes que, os outros diziam estarem ótimos, mas que não representavam o que eu queria mostrar.

Não sei quanto a você, mas eu não estou muito satisfeito com o evangelho que está sendo mostrado pela mídia. Que ocupa os púlpitos de grandes e pequenas igrejas. Que povoa as canções de adoração profética, pipocando aqui e ali. Perdoem-me os adeptos destas linhas de pensamento, mas vejo estas cada vez mais longe das raízes do evangelho pregado por Jesus e cultivado com sangue pelos Apóstolos. 

Por isso proponho uma reflexão sobre os PRINCÍPIOS DA VIDA CRISTÃ. Não vou enumerá-los, visto que não pretendo encerrar o assunto e admito que, lendo esta série de estudos, você discorde da disposição em que aparecem ou mesmo da inclusão em uma ou outra categoria que aqui eu monto. De qualquer forma, espero sinceramente apenas provocá-lo a uma reflexão sincera sobre as características, ou marcas, ou identificações de uma vida cristã.

Também não usarei a sentença “VIDA CRISTÃ AUTÊNTICA” por entender que não há vida cristã APÓCRIFA. Discursos e máscaras podem até fazer parte de um bom espetáculo teatral, mas nos bastidores, quando a maquiagem é retirada e o roteiro abandonado, aparecem as pessoas de verdade. Vida Cristã fala de verdade e não de teatro. Embora alguém possa falar e representar o que na verdade não é, não pode viver outra vida. Cedo ou tarde terá de ser ela mesma. A vida cristã se revela neste momento. Não existe opções diante do evangelho. Ou se está vivo (e se vive para Cristo e por Cristo) ou está morto com o restante do mundo.

Então, gostaria de passar a refletir sobre os princípios que identifico em uma vida cristã. Convido você a refletir comigo em cada um deles.

Seja o Senhor engrandecido em sua vida.


“E eu dei-lhes a glória que a mim me destes, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim.” Jo. 17.21,22

Diante das tragédias, nos habituamos a ver a comoção social e a disposição de muitas pessoas em fazer alguma coisa para socorrer desabrigados, buscar desaparecidos ou simplesmente ascender uma vela diante da casa de um injustiçado. As pessoas vivem suas vidas o mais privadamente possível, mas, diante da dor, lembram-se que são iguais. 

Isso não ocorre ao acaso. Todos nós recebemos a vida da mesma fonte:

“Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e formou a terra e a tudo o que produz, que dá a respiração ao povo que nela está, e vida aos que nela andam.”1

E somos sustentados vivos de igual maneira:

“Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos. Como também alguns dos vossos poetas disseram: Somos sua geração.” 

Também fomos condenados pelos pecados com a mesma sentença:

“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram.”2

E como disse um poeta nordestino: “A morte iguala a todos os homens”. Por isso, todos morrem, sem diferença:

“Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo!”3

Deus nivela todos os homens debaixo do pecado, e lhes dá gratuita e igualmente a redenção, de forma que assim como os homens são nivelados debaixo do pecado, e são feitos iguais neste ponto, também a salvação é dada sem distinção, no que ninguém pode argumentar que um é salvo por merecimento e outro por misericórdia:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” 4

Sendo assim, espera-se que aqueles que vivem sob a mesma situação, ajam altruisticamente, ajudando, colaborando uns com os outros. Naquilo que a palavra solidariedade traz de significação, dependendo uns dos outros.

Não é possível vivermos isolados, um poeta inglês escreveu que nenhum homem é uma ilha e, de fato, somos seres sociáveis e não conseguimos viver de forma diferente. 

Estar sozinho às vezes é bom, mas se este estado se prolonga, causa dor e sentimento de rejeição. Precisamos interagir. Sentir o outro. Falar e ouvir outras pessoas. Somos incompletos e nos completamos no outro. Isso não é psicologia nem sociologia contemporânea, é ensino Bíblico.

Logo, o mínimo que se espera de pessoas na mesma situação é solidariedade. Ser solidário é sentir o mesmo que o outro, é alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram. É ter um mesmo sentimento:

“Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa” 5

Desta exigência Divina da solidariedade, resultam atitudes que caracterizam o cristão. A primeira delas é o PERDÃO.

Como já vimos, Deus perdoou os pecados dos homens embora a ofensa fosse grave e impossível aos transgressores remediá-la. Deus então providencia a redenção dos pecados, e ele mesmo sofre, em lugar dos homens, o castigo pela transgressão. Logo, o que Deus espera dos perdoados? Que se perdoem mutuamente. 

Na parábola do credor empedernido, em Mateus 18.23-35, um rei (que representa a posição de Deus julgando o homem) cobra de um de seus servos (um homem que é julgado) aquilo que lhe é devido. Mas, este não como condições de pagá-lo e, depois de ter esta certeza, o rei então perdoa totalmente uma dívida altíssima. Agora, perdoado, este homem sai e se encontra com um homem que lhe deve soma muito inferior à que lhe havia acabado de ser perdoada. Qual era logo a atitude lógica que se esperava deste? Que contasse ao outro quão misericordiosamente lhe havia sido perdoada dívida impossível de ser quitada, e, da mesma forma, anular naquele instante toda a dívida que o homem tinha consigo. Mas não foi esta a sua atitude. Antes, mandou que prendessem o devedor e Dalí só lhe liberaria quando pagasse toda a dívida.

Que homem ruim não! Que coração duro! Mas, espere. Não é exatamente isso que fazemos quando nos negamos a perdoar? Nossa dívida era incomparável, e a ofensa que tínhamos contra Deus, não pode sequer ser comparada com o que nos possam fazer o homem. Mas, muitos de nós insiste em não perdoar.

Para aqueles que não perdoam, fica uma observação. Nossa situação solidária nos diz que, se não estamos em plena paz com os demais, somos impedidos de receber perdão de nossos pecados também:

“Pois se perdoardes aos homens suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Porém se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial não perdoará as vossas”.6

E, como não poderia deixar de ser, a lei moral de Deus vai muito além da falsa moralidade mundana. Nós até podemos nos dispor a perdoar qualquer um que nos procure para tal, mas não é isso que o Senhor espera.

“Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta.” 7

Diante da ofensa, como o próprio Deus fez, Ele espera que nós tenhamos a atitude de buscar a reconciliação, mesmo sendo nós os ofendidos. Quem não está preparado para isso, não o está para o cristianismo.

Perdoar não é fácil. Concordo. Dói. Mas, depois, gera frutos de alegria para longos tempos. Uma das palavras hebraicas para perdoar é nasa*, tem o sentido de livrar, libertar, como a apalavra grega aphesis que em Lc. 4.18 tem o sentido de “soltar do cativeiro”.  Mas, quem está preso numa relação onde não cabe o perdão? O perdoado ou o perdoador?

Perdoar é permitir que uma ferida seja cicatrizada. Feridas doem, e quanto mais tempo levar para se fechar, maior incomodo causará. Tolstoi um dia resolveu permitir que sua esposa lesse seu diário, inclusive suas aventuras amorosas. Ali ela leu um romance que ele havia mantido ainda em sua adolescência com uma camponesa chamada Axinya. Um tempo depois, ela escreveu em seu diário:

“Ele gosta daquela prostituta camponesa com o forte corpo de fêmea e pernas queimadas de sol, ela o atrai tão poderosamente agora como fazia durante todos aqueles anos passados”8

O detalhe disto é que, quando ela escreve estas palavras, Axinya já uma velha curvada de oitenta anos. O rancor cega. O ódio se faz em prisão para aqueles que o cultivam. A estes, o perdão traz a liberdade que não se pode alcançar na vingança.

Diante de José do Egito estava a oportunidade de vingança que alguns poderiam imaginar que há muito tempo ele esperava. Mas José escolhe perdoar.

Poder-se-ia dizer que ele é um fraco? Eu, porém, digo que é o homem mais forte cuja história conheci. A vingança era fácil e estava à sua mão. Ninguém o repreenderia por mandar matar seus irmãos (sendo ele Governador do Egito) depois de tudo quanto eles tinham feito. Era então a vingança o caminho mais fácil. Ele porém, com dores profundas na alma, liberta-se de toda uma história de perda, rancor, abandono, escravidão. Com o perdão veio a paz. Com a paz se fez um novo povo, de onde saiu o redentor do mundo.

O perdão é, pois, uma das características do cristão que o identifica neste mundo. É uma marca nos que vivem de forma solidária, entendendo no cristianismo não há acepção, nem preferidos. Aqui todos são feitos iguais diante daquele que o único Soberano Senhor: Jesus; Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.



1- Isaías 42.5 – Versão de Almeida Edição Contemporânea.
2- Atos 17.28 (idem)
3- Romanos 5.12 (ARC)
4- Eclesiates 2.16 (idem)
5- Efésios 2.8
6- Filipenses 2.2
7- Mateus 6.14-15
8- Mateus 5.23,24
  * Dicionário Internacional de Teologia - Verbete Perdão - Página 1646 - Ed. Vida Nova.



Por Davi Oliveira - Publicado no Blog Mente e Espírito.